25 dezembro 2009

Vertov

Dziga Vertov é um dos mais geniais cineastas de sempre. "O homem da câmara de filmar" ou "Três canções sobre Lenine" são dois dos melhores filmes de sempre. Mas hoje fica aqui "Brinquedos Soviéticos" de 1924.

03 maio 2009

Propinas e Bolonha, é tudo uma vergonha

Quando se fala em elitização do Ensino Superior português fala-se de um facto, mas também de um processo. É óbvio que os graus mais elevados do ensino, conhecimento e cultura sempre estiveram reservados às mais elevadas camadas sociais. Desde o tempo de D. Dinis até hoje. Contudo, a Revolução de Abril permitiu que um número considerável de filhos de trabalhadores, que à partida estariam afastados da possibilidade de ter qualquer curso universitário, acedesse ao ES. Não tenho dados concretos, mas julgo não falhar muito se disser que o momento em que o ES foi mais “democrático” em Portugal anda à volta dos anos 80.
Claro que isto contraria um elemento fundamental das formas de controlo social e da perpetuação do sistema económico capitalistas. Além de ser uma afronta para a ideologia burguesa que os seus filhos frequentem as mesmas escolas que filhos e netos de trabalhadores rurais ou operários metalúrgicos. Por isso se assistiu nos anos 90 a um ataque contra essa “porta que Abril abriu” ao povo português, as portas da Universidade.
E o processo continua. Foi, e continua sendo, o regime censitário a que chamam “propinas”. A asfixia financeira, a desvalorização da acção social, o Processo de Bolonha, o RJIES, etc. …
A luta contra este processo é mais difícil, porque ele era já um facto, à partida. Não podemos esperar que membros da classe privilegiada se insurjam contra algo que os beneficia. Não são precisos estudos para mostrar evidências, que estão à frente dos olhos de todos. Ainda assim são úteis para demonstrar pormenores e identificar estratégias e etapas. O estudo que o DN revela hoje é útil nesse sentido.
Segundo o referido estudo, os portugueses são dos europeus que se têm de sujeitar a maior esforço, em relação ao seu rendimento, para frequentar o ES. Ao mesmo tempo o estudo prova que a Acção Social em Portugal não existe. «Os apoios só cobrem 18% dos custos dos alunos que beneficiavam de acção social, contra percentagens que variam entre 20 e 93 por cento em vários países europeus…». Isto sem contar com aqueles que têm absoluta necessidade dela e ficam arredados do acesso, porque além de não chegar para tudo (ou para quase nada), não chega para todos.
«A autora diz mesmo que existe uma "séria deficiência", no que respeita à equidade e à acessibilidade ao sistema de ensino. Não só a maioria dos alunos inquiridos no estudo é de estratos de rendimentos médio (78%) ou médio/alto (12,5%), como "os pais dos universitários têm habilitações significativamente mais elevadas do que o do conjunto da população portuguesa com idade análoga".» Cá está, o ES superior num sistema económico capitalista e numa “democracia” burguesa, não tem outra função que reproduzir as relações sociais pré-existentes, estando reservado aos filhos das famílias mais abastadas e mais instruídas. A ideologia burguesa regurgita diariamente conceitos como o “mérito” ou o “empreendedorismo”. Devem ser filhos da “mão invisível” ou de Deus. Pelo menos são tão fácticos ou exequíveis como estes. E igualmente úteis. O ES não serve para elevar o nível de vida das populações, nem melhorar o país, nem para permitir que aqueles com maiores capacidades intelectuais as desenvolvam de forma adequada, nem contribuir para a produção artística, intelectual, cultural, científica ou técnica da população deste país. Serve, tão só, para perpetuar determinadas relações de produção.
Mais grave ainda, o facto de ser no ES que se desenvolvem as teses historiográficas, sociológicas, filosóficas, antropológicas, políticas, científicas, etc… dominantes, e com capacidade de propagação e execução.
Apesar de ter pessoalmente maior conhecimento da área das ciências humanas, algo que me choca, e que tenho reparado do convívio com camaradas e amigos das ciências ditas exactas, é o conceito de utilidade dado a esse tipo de conhecimento. Não se estuda medicina porque é útil à sociedade, mas sim porque é economicamente rentável. Não se investiga determinada área científica por ser útil à sociedade, mas porque pode dar lucro. E por ai fora. Não é a sociedade e o Homem que estão no centro das preocupações da Universidade burguesa, mas o lucro dos accionistas, a ganância, a venalidade.
O estudo continua dizendo que: «Para esta situação pode ter contribuído o aumento substancial das propinas no ensino público, que subiram 452% numa década, entre 1995 e 2005, para os valores actuais que podem chegar até perto de mil euros anuais.» “Pode ter contribuído” só pode ser uma construção alegórica, se esse foi o principal instrumento do processo de elitização. Mas os responsáveis máximos por isto andam aí, impunes, como MFL ou este ser asqueroso, que há vinte anos defende o aumento das propinas.
Outro papel do ES é o de desmotivação das camadas sociais mais desfavorecidas a procurarem o estudo e conhecimento. Lenine dizia que era importante “Aprender, aprender, sempre” e é obvio que não é preciso frequentar uma universidade para perceber os mecanismos sociais, ou mesmo para ser um grande engenheiro, como foi o camarada Bento Gonçalves. Mas o proletariado partindo de uma posição sempre desfavorável em relação aos detentores dos meios de produção não poderá nunca rivalizar com elas na produção de conhecimentos, por falta de condições efectivas. Isto leva à alienação e ao nihilismo entre as massas trabalhadoras, ou pelo menos ajuda.
É aqui que entra o papel da vanguarda dos trabalhadores. Nunca, jamais, desmoralizar. Aprender sempre. Estudar, divulgar, denunciar, lutar, combater, insurgir-se sempre. Não se deixar dominar pela ideologia dominante, que tece teias indestrutíveis através de lutas parciais e só serão destruídas quando o povo tomar o poder. Aí sim, o ES será para todos. Todos os que tiverem capacidades intelectuais e vontade. Mas será também posto ao serviço de todos, da sociedade e do progresso. Entretanto… a luta continua.

23 abril 2009

Eu acho que a culpa é do Stalin...

Todos conhecemos as mentiras que se contam acerca da União Soviética e de alguns dos seus líderes. As mais abjectas são as relativas aos milhões e milhões de supostos mortos que são propaladas com todo o furor, que basicamente são uma mistura de factos, poucos, com mentiras, invenções e estupidez pura.
Já aqui tive oportunidade de alertar para alguns factos que demonstram a tragédia que se abateu sobre a maior parte dos povos da União Soviética, desde que esta foi destruída.
Mas os nossos valorosos meios de desinformação, alienação e conformação social nunca se dignam a relatar nenhum destes factos, que amiúde vão surgindo.
Tive acesso a uma notícia da BBC, já de 15 de Janeiro, que revela o estudo de uma revista médica inglesa, The Lancet, segundo a Wikipédia “uma das mais importantes publicações científicas na área médica.” Passo então a citar, traduzindo o melhor que sei e posso, extractos dessa notícia.
“A rápida privatização em massa, que se seguiu ao fim da União Soviética, originou um aumento das taxas de mortalidade, entre os homens, apura o estudo.
Os investigadores disseram que as suas conclusões devem servir como um aviso para outras nações que estejam a iniciar uma reforma de mercado abrangente.
Os investigadores examinaram as taxas de mortalidade entre os homens em idade activa de países pós-comunistas da Europa de Leste e da antiga União Soviética, entre 1989 e 2002.
Concluíram que cerca de um milhão (1.000.000) de homens (o estudo apenas foca o sexo masculino), em idade activa, morreram devido ao choque das políticas de privatização em massa. A seguir ao desmoronamento do antigo regime Soviético, no inicio dos anos 90, pelo menos um quarto das grandes empresas estatais foram transferidas para o sector privado em apenas dois anos.
Este programa de privatizações em massa esteve associado com um aumento de 12,8% nas mortes.
Esta última análise relaciona o acréscimo da mortalidade com um aumento de 56% do desemprego, no mesmo período.”
Por outro lado, uma outra notícia revela que a Rússia é neste momento o maior consumidor mundial de heroína, com 2,5 milhões de consumidores.
Morram os povos. Viva o capitalismo.

22 março 2009

Confissões

Há dias Daniel Oliveira fez o balanço do 10º aniversário do Bloco, lembrando a sua experiência pessoal.
Após contar a forma como “nasceu” próximo do PCP, como colaborou e militou nas organizações de juventude do Partido e o processo que o fez afastar-se, ideologicamente, do PCP fala também daquilo que, na minha opinião, explica o aparecimento do BE. Sendo o BE, novamente na minha opinião, uma congregação de esquerdistas (cada vez menos), sociais-democratas (cada vez mais), radicais pequeno-burgueses, activistas de causas, mais ou menos de esquerda e progressistas, mas parcelares, é também uma organização criada para, pela esquerda, causar o maior prejuízo possível àqueles que, consequentemente, se afirmaram como os verdadeiros defensores dos interesses das classes trabalhadoras e do povo português.
Isto prova-se, entre outras formas, vendo quem foram, e são, os líderes do BE. Não vale a pena falar dos extraordinários contributos (ou terão sido traições?) que o MRPP (de onde vem Fernando Rosas) deu á consolidação do processo e das conquistas revolucionárias após o 25 de Abril. Ou os do PSR, com os SUV, de onde nos chegou Louçã. Ou o PRP-BR da Isabel do Carmo. Para não falar dos bombistas que, conspurcando a data gloriosa, criaram as FP-25 de Abril. Ou de outros que, como Daniel Oliveira, saíram do PCP. De todos, é com estes que menos simpatizo.
Criar organizações para sabotar as lutas do povo português, promover acções provocatórias e aventureiristas ou iludir alguns que, à partida, estariam predispostos a lutar por uma alternativa de esquerda é aborrecido, mas sempre existiram, quando a luta de classes se agudiza. Mas actuar dentro do partido de vanguarda, marxista-leninista, manobrando de forma a quebrar a sua unidade, tanto organizativa como de ligação às massas, incentivando o revisionismo teórico, lisonjeando traições que se vão consagrando noutros países, no fundo fazer de tudo para acabar com o partido a partir de dentro é a pior atitude de todas.
E é isto que Daniel Oliveira confessa. “… eu não podia ser mais marxista-leninista. Mas os desenvolvimentos na Polónia e uma viagem que fiz à Checoslováquia tinham-me tornado, é verdade, cada vez menos pró-soviético.” A que se refere DO? Será ao Solidarnorsc, criado pelas estruturas da Igreja Católica polaca, que se tem revelado um exemplo de democracia? Como pode alguém afirmar-se marxista-leninista e apoiar a traição polaca? Só se explica com o objectivo de semear a discórdia e confusão entre os militantes do Partido na altura, num contexto que todos conhecem.
A melhor é: “Gostava de Carrillo, de Berlinguer e de Tito.” Deve faltar aqui Marchais, para o triunvirato de traidores estar completo. E esta é a mais reveladora. Daniel Oliveira, assim como outros, pretendiam que o PCP seguisse alegremente o caminho para o abismo, indicado pelos carrascos dos, outrora gloriosos, partidos comunistas italiano, francês e espanhol. Assim, hoje o povo português teria um instrumento de luta e defesa dos seus direitos tão útil quanto o PCF, PCE ou o que sobra do PCI. Uma coisa é certa, caso a traição tivesse triunfado em Portugal, hoje não seria necessária a existência de um Bloco de Esquerda. Gostar de Berlinguer significa saber tudo o que ele fez, disse (“Io voglio che l'Italia non esca dal Patto Atlantico... Mi sento piu' sicuro stando di qua.”) e quais as repercussões que isso teve para a esquerda italiana e europeia.
“Acompanhei com esperança e imensas ilusões a Perestroika de Gorbachev. Mas quando o PCP apoiou o golpe dos ortodoxos aconteceu o afastamento emocional (que no caso do PCP nunca é fácil) definitivo.” Daqui nem sei por onde começar, não admito que alguém se diga de “esquerda” e acompanhe com “esperança e ilusões” as acções do traidor-mor e vendedor de relógios de luxo Gorbachev, compagnon de route de Thatcher, Reagan e João Paulo II, e será que DO esperava que o PCP também apoiasse essa traição?
“O Bloco começou a nascer com a queda do Muro…”. Fora as considerações acerca da utilidade e da discutível inteligência da construção do Muro de Berlim, a sua queda representa o fim dos muitos problemas e erros com que se debatiam a União Soviética e os países de Leste, mas representa também o fim das experiencias que levaram mais fundo a construção de uma alternativa socialista, o fim da existência de um bloco anti-imperialista e o fim das conquistas extraordinárias desses povos. Assim se vê que o BE não passa de uma nova modalidade do imenso rol de traições, herdeiro de muitas delas.

13 março 2009

História (não oficial)

Todos sabemos que existe uma História boa e uma História má. A História boa é aquela que serve os interesses da classe dominante, serve para transmitir a sua ideologia e legitimá-la enquanto classe dominante.
Todos os factos que contradigam a versão oficial da História são abafados, especialmente se vierem pôr em causa a gigantesca campanha de diabolização da União Soviética, que nasceu ao mesmo tempo que a própria Revolução. Ciclicamente são “descobertas” novas embustices sobre a URSS que são veiculadas com grande fervor pelos meios de comunicação social.
Já os factos que ajudam a provar a verdade, nomeadamente que a URSS foi sempre uma defensora da paz entre todos os povos, vítima das mais infames e brutais agressões (pelas quais foi, muitas vezes responsabilizada) e que sempre esteve disposta a colaborar com as potências capitalistas para o prosseguimento de uma política de paz (apesar das divergências politicas) quando revelados nos média, são-no de forma tímida e furtiva.
Se soubéssemos que a URSS propôs aos governos da Inglaterra e da França, duas semanas antes do inicio da II Guerra Mundial o ataque à Alemanha Nazi, comprometendo-se a enviar um milhão de homens e uma força considerável de artilharia e que a França e Inglaterra não se dignaram sequer a responder, com certeza seria um facto que ajudaria a perceber que na realidade as potências Imperialistas “democráticas” sempre esperaram que Hitler atacasse a URSS, dando-lhe assim o seu “espaço vital” e destruindo a pátria dos Sovietes.
A restante Historia é conhecida. A guerra, que podia ter sido evitada não fosse a hipocrisia e ódio de classe dos governos burgueses á União Soviética, foi ganha pelos povos, com muitos milhões de mortos e sofrimentos indizíveis, sendo que a URSS destruiu 85% da máquina de guerra Nazi.

Aquela notícia que referi está aqui.

07 março 2009

Última Hora

O ódio profundo das classes parasitárias ao sonho da instauração de uma sociedade Comunista tem originado as maiores barbaridades, crimes e mentiras. Josif Vissariónovich Djugashvíli tem sido vítima das maiores maquinações, mentiras e deturpações da História. Tanto que hoje até fica mal defender o seu legado, os triunfos que os povos soviéticos conseguiram nos anos em que liderou a URSS, a vitória sobre o capitalismo nazi-fascista. O seu nome tornou-se um adjectivo que descreve as maiores atrocidades. Há até muitos comunistas que rejeitam o legado de Stalin. Mas comigo não contam para colaborar numa das maiores injustiças que conheço.
É natural que todo o aparelho ideológico do Capitalismo tenha, desde os anos 30, sido recrutado para denegrir a imagem de Stalin. Se o ódio e incompatibilidade do Capitalismo com o sonho do Comunismo é tão grande, imagine-se quando este se depara com um projecto socialista que avança a passos larguíssimos, não só na construção do socialismo como na edificação de uma potência enorme, a todos os títulos.
A máquina de guerra nazi, criada com o intuito de destruir esse projecto foi derrotada, à custa de milhões de vítimas. Mas as mentiras criadas por Goebbels ainda circulam. Antes e depois do Ministro da Propaganda nazi muitos se dedicaram a deturpar a verdade sobre Stalin, como Trotsky, Solzhenistsyn ou Conquest. Muitas das mentiras estão hoje desmascaradas, como aquela do chamado “Holomodor”, que foi provado ter sido fabricado por ucranianos reaccionários e colaboradores dos nazis.
Aquilo que conheço do contributo teórico de Stalin é suficiente para supor que o próprio, posto perante o problema das fabricações de que foi vitima, defenderia que as energias que se haviam de gastar a repor a verdade histórica seriam melhor gastas a lutar por aquilo que ele lutou.
É óbvio também que não se podem negar, nem há qualquer vantagem nisso pois só a verdade é revolucionária, os erros e excessos cometidos. Nem se pode achar que um homem conhecido por Stalin (homem de aço), que atravessou e viveu três guerras (as duas mundiais e a civil russa) e varias revoluções tenha tido uma vida pacata e sem usar a força. E quem acreditar que é possível construir o socialismo sem responder violentamente à violenta reacção capitalista ou é utópico ou capitalista.
A melhor forma que tenho de ilustrar as mentiras inventadas acerca da URSS e de Stalin é a notícia de “Última hora” do jornal franquista ABC, de 21 de Março de 1976 que citando Solzhenistsyn diz terem morrido 110 milhões de russos vitimas do socialismo. Se juntarmos os ucranianos, bielorrussos, bálticos, cazaques, uzbeques, moldavos, tártaros, quirguizes e outras nacionalidades da URSS a cifra deverá ultrapassar o número de habitantes da União. Não deixa de ser uma proeza conseguir matar mais pessoas do que a população da União.





18 fevereiro 2009

As máscaras

Numa recente pesquisa que fiz, acerca de partidos, associações, grupos, grupelhos, etc., que se intitulavam ou identificavam como sendo de esquerda ou extrema-esquerda, marxistas-leninistas, comunistas, operários e por ai fora, no período entre, sensivelmente, 1964 e 1982 encontrei cerca de 90 nomes. Esta recolha foi feita apenas recorrendo à Internet, a uns livros que tenho e à memória de ter ouvido falar deles. Entre eles havia grande originalidade, o que levou ao surgimento de nomes como PUP (Partido de Unidade Popular), AOC (Aliança Operária Camponesa) ou CALO (Comités de Apoio às Lutas Operárias).
A maioria nunca esteve registada como partido ou associação politica, e muitos nem desenvolveram qualquer actividade, bastando para ingressar na lista ter sido impresso qualquer documento de propaganda ou surgido alguma notícia num jornal.
O papel e importância destas organizações durante o PREC está ainda pouco estudado, contudo, na minha opinião, eles foram mais úteis à contra-revolução do que, por exemplo os bombistas de extrema-direita. É que este tipo de organizações serviam como provocadores de situações indesejáveis e, algumas, infiltravam-se no movimento operário com um espírito divisionista. No fundo, tiveram o mesmo papel que outras noutros contextos históricos: Revolução russa, revolta spartacista alemã ou guerra de Espanha. E se pensarmos bem ainda hoje as temos!
Algumas linhas podem ser traçadas e é curioso ver como surgiram essas organizações e onde estão hoje alguns dos seus membros. O PCTP-MRPP, do grande educador da classe operária Arnaldo Matos, hoje militante do PSD, tinha como inimigo principal o PCP, que intitulava de “social-fascista”. Grande parte dos seus membros acabou no PS (José Lamego, Ana Gomes), no PSD (Pacheco Pereira, Durão Barroso) ou no BE (Fernando Rosas). Depois havia um grande dinamizador deste tipo de “partidos”, que só à sua conta criou uns quantos, Francisco Martins Rodrigues. Só em 1964 esteve na criação de dois, a CMLP - Comité Marxista-Leninista Português e a FAP - Frente de Acção Popular. Estes, de cisão em cisão, com uma ou outra fusão pelo meio, originaram dezenas de organizações. Em algum dos pontos do percurso destes grupelhos de FMR (nomeadamente naquele em que existia uma coisa chamada Partido Comunista de Portugal (marxista-leninista), surgiram as facções do “Renegado” Heduino Gomes Vilar e a “facção Mendes”, que de forma imediata dariam origem à AOC e ao PUP, respectivamente. Existiam também algumas de tendência basista, trotskistas, maoistas, albanesas, estalinistas, e por ai fora.
Curioso é notar o número de comités, “partidos”, “frentes”, etc. que se pretendiam apropriar ou aproximar da designação Partido Comunista Português, ou “reconstruí-lo”. Por exemplo: PCTP, PCP (ml), CARP (ML) (Comité de Apoio à Reconstrução do Partido Marxista-Leninista), CMLP (Comité Marxista-Leninista Português), ORPC (Organização para a Reconstrução do Partido Comunista), PC de P (ec) (Partido Comunista de Portugal (em Construção)), PC de P (Partido Comunista de Portugal), PC (R) (Partido Comunista (Reconstruído)), PCP (ML) (Partido Comunista Português (Marxista-Leninista)) e PCP (R) (Partido Comunista Português (Reconstruído)).
Talvez um dia se venha a descobrir quem estava, na realidade, por trás destes “partidos operários e marxistas-leninistas”…

11 janeiro 2009

Universidade ao serviço da banca

Os processos que se têm desenvolvido no âmbito do Ensino Superior em Portugal, introdução das propinas, proliferação das Universidades privadas (ainda no governo de Cavaco), processo de Bolonha, créditos universitários, novo regime jurídico, etc., são conducentes à efectivação de dois objectivos básicos: entrega do Ensino Superior aos grandes grupos económicos e financeiros nacionais e internacionais e agravamento, da já certa, elitização do Ensino Superior.
É óbvio que teria sido mais fácil transformar a Universidade de Lisboa, ou de Coimbra, por exemplo, numa Sociedade Anónima da noite para o dia. Seria o expoente máximo da modernidade ver a UL ser gerida por uma Holding ou poder comprar acções da UNL no PSI-20. Todos sabemos, contudo, que o processo político necessita de alguns subterfúgios e contemporizações para poder efectivar objectivos tão radicais. Talvez o ano de 2008 estivesse “marcado” como o do definitivo takeover da banca sobre a Universidade portuguesa. Infelizmente, para eles já se vê, rebentou-lhes esta crisesita nas mãos que criou alguns anticorpos dos cidadãos em relação aos bancos.
Em todas as faculdades, as que conheço pelo menos, há uma dependência de um banco. Na FCSH está prestes a estrear o balcão do Santander. No Conselho Geral da UNL estão bem representados interesses da banca internacional e da indústria farmacêutica e nem os patos-bravos faltam.
Agora foi eleito Artur Santos Silva como Presidente do Conselho Geral da Universidade de Coimbra, o principal órgão de governo da Instituição. Claro que também lá está a indústria farmacêutica e, vejam que isto é feito com profissionalismo e obedecendo aos mais sagrados princípios da “economia de mercado”, se está presente o CEO da ZON Multimédia também está um administrador executivo da SONAECOM.
Anseio pelo dia em que um cartão de cliente do Continente possa ser usado no refeitório da faculdade, que seja brindado com um desconto de 5% se pagar as propinas através dos serviços de Homebanking de qualquer banco ou que me seja oferecido um fantástico estágio de um ano, não remunerado obviamente, num qualquer laboratório químico.
Enfim, nada disto é irreversível. Ainda podemos expulsar os especuladores e capitalistas do Ensino Superior. Ainda podemos construir um Ensino Superior ao serviço do POVO E DO PAÍS.

06 janeiro 2009

Tomada de posição da FMJD sobre o ataque de Israel a Gaza, Palestina

A Federação Mundial da Juventude Democrática vem, por este meio, denunciar e veementemente condenar o ataque brutal, ilegal e criminoso do exército israelita a Gaza, território palestiniano. No mesmo sentido vimos expressar que consideramos o facto de Israel ter avançado para o plano militar uma expressão do falhanço da sua política em Gaza e na região.

Nos últimos dias, o exército de Israel, as suas bombas e armas, mataram centenas de palestinianos (logo no primeiro dia 120 polícias palestinianos foram massacrados) e feriram milhares de outros palestinianos cujo único crime é a luta por uma terra e um país que são seus.

O ataque de Israel não é baseado numa motivação defensiva, antes de mais porque o assassinato defensivo e a destruição nunca são o caminho para a paz ou para a resolução de um conflito. É ainda importante relembrar que Israel (com a colaboração activa do Egipto) é o mesmo país que cercou Gaza por largos meses, não permitindo o seu povo ter comunicação com o mundo exterior e deteriorando o nível de vida a um patamar de catástrofe humanitária.

É este mesmo Israel que construiu um ilegal e vergonhoso muro dentro da Palestina, que faz o povo da Palestina não poder mover-se livremente dentro do seu próprio país. É este mesmo Israel que invade diariamente a Palestina para prender arbitrária e ilegalmente palestinianos. O mesmo Israel que corta as oliveiras na Palestina, destruindo a economia palestiniana e deixando os palestinianos desempregados. É o mesmo Israel que está a envenenar a água bebida pelo povo palestiniano, fazendo as taxas de cancro aumentar na Palestina.

A FMJD que o lema de combater o Hamas e o terrorismo foi usado como pretexto para acabar com a resistência palestiniana, que é formada por diversas facções, especialmente forças laicas, populares e de esquerda além do Hamas. A conspiração para acabar com a causa palestiniana é levada a cabo através da destruição simultânea de todos os meios da sua subsistência e pela destruição da identidade palestiniana, objectivo partilhado pelo Egipto, Arábia Saudita, Jordânia e outros regimes árabes. Os EUA apoiam e encobrem a guerra, enquanto a União Europeia vai dando mais tempo a Israel enquanto não emite uma posição, fechando assim os olhos perante uma situação que já há muito era conhecida como muito má e que é claramente catastrófica. É uma conspiração por todos os meios de muitas forças imperialistas, as suas marionetas no Médio Oriente e o Estado criminoso e sionista de Israel.

A FMJD expressa a sua solidariedade total para com todas as acções de resistência e solidariedade organizadas por todo o mundo durante a última semana.

A FMJD apela a todas as suas organizações membro e amigas, bem como a todos os jovens progressistas e democratas do mundo que façam do regresso às escolas, universidades e locais de trabalho o regresso da luta. Neste sentido a FMJD decidiu que entre 5 e 10 de Janeiro, teria lugar uma semana de protesto à escala mundial em frente às embaixadas de Israel, EUA e Egipto para exigir o cessar fogo imediato e a abertura de fronteiras para todas as necessidades do povo de Gaza, bem como o direito de entrar e sair da sua grande prisão.

O Conselho Coordenador/Sede da FMJD
Budapeste, 5 de Janeiro de 2009