09 janeiro 2008

Democracias

José Sócrates anunciou que não iria ser realizado referendo ao tratado da União Europeia. Assim quebra mais uma promessa eleitoral, para juntar à já longa colecção.
O caminho vinha sendo preparado pelos chefes de Estado e de governo da Europa, e até contou com uma mãozinha do Presidente da República. O mais engraçado de tudo são os argumentos usados para justificar esta decisão. Os comentadores profissionais enumeram algumas: que a realização do Referendo em Portugal iria comprometer a posição de outros chefes de governo (de países onde era quase certo que o Não ganhava); que esta questão não é essencial e que se devem focar as atenções noutras questões (como o caso Luisão-Katsouranis, certamente, que têm muito mais horas de esclarecimento e debate nos meios de comunicação social que uma questão de menor importância como o Tratado), tese sustentada pelo P.R.; que era quase certo que com o apoio do PS, PSD e CDS o Sim ganharia em Portugal, logo é absurdo referendar uma questão da qual já se conhece o resultado á partida; que caso o Não ganhasse se estaria a perder uma óptima oportunidade (resta saber para quem) de reformar a União Europeia.
São todos argumentos de grande valor democrático, e que demonstram grande respeito pelo povo português (que é considerado como um povo de gente chata que poderia importunar o Sr. Gordon Brown, a seres que se limitam a pôr a cruzinha no quadrado indicado pelo partido da sua preferência, passando por provincianos que não sabem o que é melhor para o seu país e não iriam perceber uma palavra do que seria debatido). Assim se prova que para esta gente a democracia não é um valor absoluto, mas antes uma conveniência de circunstância, que se deve evitar sempre que haja o risco de se tornar algo aborrecido.

1 comentário:

Anónimo disse...

Imaginem se o Hugo Chavez decidisse que a alteração constitucional na Venezuela seria efectuada por via parlementar, pois existia no parlamento uma ampla maioria favorável. É evidente que esses mesmos comentadores diriam logo que era um ditador e que queria impor uma constituição ao arrepio da vontade popular... Como é o Sócrates e o seu hómologo inglês, o povo não tem de ser ouvido... A isto chama-se coerência!...
Parabéns pelo blog