18 fevereiro 2009

As máscaras

Numa recente pesquisa que fiz, acerca de partidos, associações, grupos, grupelhos, etc., que se intitulavam ou identificavam como sendo de esquerda ou extrema-esquerda, marxistas-leninistas, comunistas, operários e por ai fora, no período entre, sensivelmente, 1964 e 1982 encontrei cerca de 90 nomes. Esta recolha foi feita apenas recorrendo à Internet, a uns livros que tenho e à memória de ter ouvido falar deles. Entre eles havia grande originalidade, o que levou ao surgimento de nomes como PUP (Partido de Unidade Popular), AOC (Aliança Operária Camponesa) ou CALO (Comités de Apoio às Lutas Operárias).
A maioria nunca esteve registada como partido ou associação politica, e muitos nem desenvolveram qualquer actividade, bastando para ingressar na lista ter sido impresso qualquer documento de propaganda ou surgido alguma notícia num jornal.
O papel e importância destas organizações durante o PREC está ainda pouco estudado, contudo, na minha opinião, eles foram mais úteis à contra-revolução do que, por exemplo os bombistas de extrema-direita. É que este tipo de organizações serviam como provocadores de situações indesejáveis e, algumas, infiltravam-se no movimento operário com um espírito divisionista. No fundo, tiveram o mesmo papel que outras noutros contextos históricos: Revolução russa, revolta spartacista alemã ou guerra de Espanha. E se pensarmos bem ainda hoje as temos!
Algumas linhas podem ser traçadas e é curioso ver como surgiram essas organizações e onde estão hoje alguns dos seus membros. O PCTP-MRPP, do grande educador da classe operária Arnaldo Matos, hoje militante do PSD, tinha como inimigo principal o PCP, que intitulava de “social-fascista”. Grande parte dos seus membros acabou no PS (José Lamego, Ana Gomes), no PSD (Pacheco Pereira, Durão Barroso) ou no BE (Fernando Rosas). Depois havia um grande dinamizador deste tipo de “partidos”, que só à sua conta criou uns quantos, Francisco Martins Rodrigues. Só em 1964 esteve na criação de dois, a CMLP - Comité Marxista-Leninista Português e a FAP - Frente de Acção Popular. Estes, de cisão em cisão, com uma ou outra fusão pelo meio, originaram dezenas de organizações. Em algum dos pontos do percurso destes grupelhos de FMR (nomeadamente naquele em que existia uma coisa chamada Partido Comunista de Portugal (marxista-leninista), surgiram as facções do “Renegado” Heduino Gomes Vilar e a “facção Mendes”, que de forma imediata dariam origem à AOC e ao PUP, respectivamente. Existiam também algumas de tendência basista, trotskistas, maoistas, albanesas, estalinistas, e por ai fora.
Curioso é notar o número de comités, “partidos”, “frentes”, etc. que se pretendiam apropriar ou aproximar da designação Partido Comunista Português, ou “reconstruí-lo”. Por exemplo: PCTP, PCP (ml), CARP (ML) (Comité de Apoio à Reconstrução do Partido Marxista-Leninista), CMLP (Comité Marxista-Leninista Português), ORPC (Organização para a Reconstrução do Partido Comunista), PC de P (ec) (Partido Comunista de Portugal (em Construção)), PC de P (Partido Comunista de Portugal), PC (R) (Partido Comunista (Reconstruído)), PCP (ML) (Partido Comunista Português (Marxista-Leninista)) e PCP (R) (Partido Comunista Português (Reconstruído)).
Talvez um dia se venha a descobrir quem estava, na realidade, por trás destes “partidos operários e marxistas-leninistas”…