26 maio 2008

Os Vendilhões (do desbarato)

Os candidatos à liderança do PSD têm defendido a liquidação (por outras palavras, obviamente) do Serviço Nacional de Saúde. Depois de terem entregue as áreas estratégicas do sector produtivo e financeiro aos privados (meios de produção e criação de riqueza), de terem em 2003 e agora, num novo capítulo, em 2008 implementado um processo de retirada de direitos aos trabalhadores (com o intuito de diminuir o custo do factor trabalho, ou aumentar a exploração) pouco resta senão os serviços sociais do Estado (portanto de todos os portugueses, independentemente dos recursos).
Aquelas foram sem dúvida três das grandes conquistas de Abril (fim dos monopólios e nacionalização de sectores estratégicos nacionais; conquista e consagração de, até então inimagináveis, direitos dos trabalhadores; criação de serviços de educação, saúde, solidariedade, etc. universais e sociais) que têm sido revertidas neste processo contra-revolucionário em curso há 32 anos protagonizado pelo PS, PSD e CDS, não sem encontrarem forte resistência daqueles que lutaram por elas e do povo português em geral.
No campo laboral o PS tem o mérito de conseguir apresentar propostas de alteração de um Código do CDS, que não era fácil de piorar, que pretende fazer aquilo que o governo PSD-CDS não teve coragem ou poder para fazer. Assim deixa o PSD com a única alternativa de aplaudir a proposta.
O facto de prometerem a privatização da RTP e da Caixa Geral de Depósitos não é suficiente para saciar as verdadeiras bases do Partido (os grupos económico-financeiros), com as eventuais excepções de Pinto Balsemão e Paulo Teixeira Pinto.
O que é verdadeiramente apetecível é a saúde, educação e segurança social. De facto, se o poder económico tolerou ou tolera uma inadmissível (para os seus interesses) intervenção do Estado nestas áreas, não é por um repentino assomo de consciência social, mas antes porque as lutas dos povos desde, o século XIX, não lhes concedeu alternativa. Contudo para não entrar em crise, o sistema capitalista necessita de proceder continuamente à acumulação de riqueza. Assim, é chegado o momento de pôr a saúde a render (quem quer saúde que a pague já dizia um ministro de Cavaco). O PS começou por liquidar serviços de saúde abrindo o caminho aos privados, contudo instalar uma clínica ou hospital exige um investimento assinalável. Por que não fornece então o Estado as infra-estruturas? Como fez, de resto, com tantas empresas públicas que foram desbaratadas servindo os interesses dos privados e assim incentivando o “empreendedorismo”. Além disso vão vendendo a ideia da insustentabilidade do sistema. Há algum tempo era a segurança social que estava prestes a falir, depois calaram-se, agora é a saúde…
Na educação surge a espantosa ideia do cheque-ensino. O nome é sintomático, quem tiver dinheiro paga a boa educação, quem não tem aprende a ler, escrever e contar até dez. Esta é também outra das concessões feitas pela classe dominante nunca digerida completamente. Então os filhos dos trabalhadores, malandros, andam a estudar quando podiam estar a contribuir para a competitividade do país?
Manuela Ferreira Leite tem neste específico grande vantagem sobre os outros, visto que foi ela que iniciou um processo de ataque contra o direito á educação, quando foi ministra e que tem vindo a ser aprofundado por outros.
Numa edição da semana passada do Público, os candidatos afirmam todos, sem grande pudor (não admira estavam a jogar em casa) que além da segurança e da defesa tudo o resto pode ser privatizado. Sinceramente não percebo porquê. Segundo as leis do mercado, a concorrência entre a GNR e a PSP só poderia beneficiar os cidadãos e a gestão da Força Aérea pela SONAE ou do Exército pelo Milenium BCP, seria bastante mais racional que pelos generais que nunca leram uma palavra de um livro de economia.
Infelizmente para o PSD, o governo do engenheiro Sócrates está a implementar este processo com algum sucesso, se bem que não ao ritmo que os interessados pretenderiam.
O que é certo é que perante esta gente sinistra e venal, o povo português não pode evitar as grandes lutas que se impõem para defender os seus direitos, e quem sabe conquistar uma força que lhe permita seguir um caminho de aprofundamento da democracia política, económica, social e cultural, contra o retrocesso social que significaria o continuar destas políticas.

22 maio 2008

Grande Novidade

A Comissão Europeia apresentou um relatório que conclui, sem grande surpresa, que Portugal é o país da União Europeia com maiores desigualdades na distribuição da riqueza, isto com dados relativos a 2004. Ou seja Portugal é um dos países com maior concentração de riqueza, o único na Europa que supera os EUA. Não será difícil admitir que após quatro anos de governo Sócrates, o fosso entre os mais ricos e o mais pobres se tem alargado, visto que as politicas deste têm todas sido no sentido de promover ainda mais as desigualdades.
Mas o governo parece ter a solução: com umas alterações ao código do trabalho, que tirem alguns dos direitos aos preguiçosos dos trabalhadores, os desgraçados dos patrões portugueses poderão enfim conseguir ganhar o suficiente para sustentar as suas famílias, ou pelo menos comprar mais uns Bentley’s, tudo a bem da economia.