27 setembro 2008

Pela reabertura dos SAP de Corroios e Seixal!

A Comissão de Utentes da Saúde do Concelho do Seixal apresentou uma petição na Assembleia da República pela reabertura dos SAP's de Corroios e do Seixal, na continuação da sua luta pelo direito à saúde que têm todos os cidadãos portugueses, e que o Governo de Sócrates está apostado em acabar. Fica aqui a intervenção do deputado do PCP, Bruno Dias:

Senhor Presidente,Senhoras e Senhores Deputados,
Em primeiro lugar, queremos saudar vivamente as Comissões de Utentes do Concelho do Seixal; e destacar esta notável participação dos utentes da saúde e das populações, lado a lado com os eleitos do Poder Local. Foi uma resposta inequívoca de protesto e de luta, que incluiu esta Petição com 40 mil subscritores (petição n.º 417/X). Aqui, não foram os patrões dos hipermercados que mandaram recolher assinaturas - foram as populações que se mobilizaram e se fizeram ouvir, exigindo a imediata reabertura dos SAP de Corroios e do Seixal.
O que se impõe é que o Governo de uma vez por todas ouça estas vozes e ponha cobro a esta situação inaceitável. Mas o Governo e a maioria PS fazem-se de cegos e surdos.
Aliás, o Grupo Parlamentar do PS até já aqui afirmou que nenhum SAP foi encerrado em Portugal. Hoje o PS ainda vai dizer que os SAP de Corroios e Seixal não eram SAP! O PS dirá de resto que o problema é a falta de médicos. E nós, que andamos há anos a alertar para isso, sublinhamos que não é a fechar as portas aos serviços que os médicos hão de aparecer...
Seguramente, o PS dirá ainda que os utentes destes serviços até ficaram melhor depois destes encerramentos! É o argumento habitual. Mas como o descaramento não tem limites, o Governo na resposta à Deputada Relatora escreve esta coisa extraordinária: «a quase totalidade dos utentes do Centro de Saúde do Seixal passou a ter médico de família atribuído, ficando a existir 4.787 utentes sem médico».
Para o Governo, estes milhares de pessoas são um "quase", um pormenor estatístico. No Concelho do Seixal (diz o Governo na sua resposta ao PCP), há 41.278 utentes sem médico de família - e isto, mesmo depois do encerramento dos SAP e das "limpezas de ficheiros". Perante a evidente falta de transportes públicos nesta área, o Governo encerra serviços de proximidade e as pessoas vivem pior!
O encerramento destes SAP foi "comunicado" na véspera, com uma folha de papel na porta. Veja-se como o Governo "dialoga" com o poder local: numa reunião no dia 10 de Julho, apresenta a "proposta" do encerramento e concorda em manter a questão em aberto. No dia 17 à noite, as portas do SAP aparecem fechadas!
Em Agosto, perante o protesto, o Governo anunciou que as consequências dos encerramentos dos SAP iriam ser «monitorizadas e avaliadas». Um mês depois, a ARS tentou convencer autarcas e utentes da "boa" razão dos encerramentos, e incapazes de o provar, prometeram apresentar os dados em falta... até hoje! Passou um ano. Confrontado pelo PCP, o Governo diz que os dados estão na ARS! É uma vergonha!
Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores Deputados,
O que se impõe não é o encerramento e diminuição de serviços - é a abertura e a melhoria de serviços! A reabertura destes SAP é uma medida urgente. Assim como a colocação de médicos, enfermeiros, técnicos de saúde, administrativos. Assim como a construção do Hospital do Seixal, que permita aliviar (e não sobrecarregar, como agora) as urgências do Hospital Garcia de Orta.
Mas com orientações e decisões destas, bem podem mudar os nomes e rostos: é cada vez mais evidente que esta política de direita é prejudicial à saúde.
Disse.

19 setembro 2008

Traição

A traição consuma-se. O Código dos patrões para os trabalhadores vai ser aprovado pela bancada do PS, este mês ou no próximo. E assim este cumpre mais uma vez a sua missão histórica, de satisfazer todos os interesses e desejos dos capitalistas e monopolistas, nacionais e internacionais, atacando as conquistas e direitos do povo português, em especial os trabalhadores.
Coadjuvado pela UGT, organização anti-sindical criada para dividir o sindicalismo português e para ocupar um lugar na concertação social, cinicamente, em nome dos trabalhadores, põe agora em prática as ambições do patronato que o governo do PSD/CDS-PP não conseguiu concretizar no Código de 2003. Nessa altura, também devido á oposição deste mesmo PS.
A traição é tanto maior quanto o número de trabalhadores que votaram no PS, atendendo às promessas eleitorais, que prometiam revogar as normas mais gravosas do Código de Bagão Félix. Uma lei laboral, já de si prejudicial para os trabalhadores, elaborada pela direita mais reaccionária, consegue agora ser revista para pior por um governo e partido ditos socialistas.
E é ainda mais revoltante por ser aprovada por um partido ao serviço do Capitalismo, nacional e internacional, que ostenta o nome de Socialista. É uma afronta para a memória de milhares ou milhões de pessoas que morreram a lutar pelo socialismo ou para os verdadeiros socialistas de hoje, que lutaram e lutam precisamente pelo contrário daquilo que pratica este governo e partido, ditos socialistas.
Os povos já provaram inúmeras vezes ao longo da História que conseguem ter a lucidez e força para impedir os retrocessos sociais que as classes dominantes pretendem impor. O povo português já o provou. Neste momento é imperioso que os trabalhadores portugueses tomem consciência do ataque de que estão sendo vítimas e tenham a lucidez e força para impedir.
A caducidade de TODAS as convenções colectivas de trabalho, a desregulamentação de horários, o fim das “horas” extraordinárias, o reforço do poder discricionário do patronato, o ataque aos direitos e liberdade sindical e outros aspectos deste Código levariam as relações laborais em Portugal direitinhas para o início do século XX. Depois de todas as transformações e conquistas conseguidas no século passado, á custa de sacrifícios indizíveis e milhões de mortos seria, além de uma tragédia para o progresso social, uma desonra para a nossa geração.
Não podemos aceitar que um bando de incompetentes mentirosos e vaidosos, ao serviço da reacção social, venha reverter aquilo que foi alcançado com tanto sacrifício.

A Luta (vai ser difícil, mas) continua!

Quem diria?

"Nos últimos dez anos, sete empresas de «catering» que fornecem refeições preparadas a escolas e hospitais terão lesado o Estado em 172,6 milhões de euros. As empresas combinavam os preços a apresentar nos concursos, trocavam informações comerciais e asseguravam dois terços do mercado de prestação de serviços de fornecimento de refeições.
A notícia avançada pelo Jornal de Negócios fala no «maior cartel de sempre apanhado em Portugal». A suspeita de cartelização é da Autoridade da Concorrência (AdC), que iniciou as investigações em Fevereiro de 2007 e formalizou agora a acusação, a que o Jornal de Negócios teve acesso.
De acordo com a acusação da AdC, o cartel era formado pela Gertal e Itau (ambas do grupo Trivalor), ICA e Nordigal (com os mesmos sócios), Eurest, Uniself e Sodexho."

Notícia aqui

18 setembro 2008

O socialismo é o caminho

Não será novidade para ninguém que o sistema económico capitalista está em crise. As falências de multinacionais financeiras sucedem-se, o imperialismo já não consegue como dantes ditar as leis conforme pretende, e mesmo as camadas sociais menos conscientes se apercebem como são, diariamente, exploradas.
Contudo esta não é uma crise nova ou conjuntural. Pelas contradições que geram no seu interior, a crise é característica inseparável de qualquer sistema económico baseado na exploração de uma classe por outra. Deste modo, mesmo nos anos áureos do neo-liberalismo, nas décadas de 80 e 90, o capitalismo encontrava-se em crise. E mesmo que venha a recuperar, em crise continuará.
Os fanáticos do neo-liberalismo, incluindo os que dizem não ser liberais, andam desvairados em busca de justificações e causas para a crise, andando sempre em círculos à volta da realidade, mas sem nunca olharem para ela. Invariavelmente acabam por usar o dogma fantasioso e místico de Adam Smith da “mão invisível”, fazendo pequenos ajustes, conforme os interesses. Deste modo, tudo resulta de uma mecânica “natural” da economia, do funcionamento do mercado e outros eloquentes dogmas liberais. Alguns, em desespero certamente, afirmam mesmo que a crise é benéfica porque acabará por fortalecer as economias. Esta sim, uma ideologia utópica, dogmática e desfasada da realidade.
O capitalismo apresentou, no século XX, três modelos diferentes entre si, mas que na prática têm o mesmo objectivo, a perpetuação da exploração do Homem pelo Homem. O modelo social-democrata demonstrou que pode eficazmente atingir este objectivo, promovendo o divisionismo no interior do movimento dos trabalhadores, criando sistemas sociais que minimizem os conflitos de classe ou cedendo, temporária e parcialmente, às reivindicações dos trabalhadores. A versão terrorista do capitalismo, sem dúvida a mais repugnante e odiosa, o fascismo, provou que pode também, através da criação de um Estado terrorista, da promoção da guerra, da opressão e repressão de todo o tipo de progresso social, defender os interesses do capital, contra os dos trabalhadores.
Por sua vez o Liberalismo, clássico ou recauchutado, provou ser uma versão utópica do capitalismo, o Eden dos capitalistas. De facto, abandonar tudo às leis do mercado, onde tudo tem preço, mas nada tem valor, seria o modelo mais benéfico para os capitalistas. Assistimos no nosso tempo a aberrações como a mercantilização de valores como as relações sociais, a cultura e mesmo o afecto ou amor, deixando as necessidades de todos à mercê da ganância de alguns. Como pode o capitalista aceitar que a saúde, educação, segurança social, áreas que tanto rendimento poderiam dar, não estejam á sua disposição, efectivando assim a sua liberdade (para explorar, claro)? A ganância faz com que se cometam todo o tipo de atitudes, por mais contrárias que sejam aos interesses da comunidade, originando injustiças insustentáveis. Aí a solução é emendar alguns erros, para logo os voltar a cometer, através da social-democracia ou a repressão e guerra com o capitalismo terrorista.
Os candidatos á Casa Branca parecem representar, cada um, estas soluções. Obama propõe que se emendem alguns erros e adoptem alguns paliativos, para que assim que seja possível se volte ao mesmo capitalismo selvagem. Mccain propõe a guerra, seja com quem for, o terrorismo imperialista, a fome, o agravamento da exploração dos países em desenvolvimento, para resolver a crise nos países “desenvolvidos”.
Nenhuma destas é a solução de que necessitam os povos de todo o Mundo. Bem pelo contrário. Os comunistas devem, neste momento assumir o seu papel de vanguarda da classe operária e de todos os trabalhadores, assim como de outras camadas ou povos explorados ou vítimas de opressão económica, demonstrando que existe um caminho, mas o do Socialismo, que de resto é tão bem descrito pelo Cantigueiro aqui.

12 setembro 2008

Ode à estupidez

A imbecilidade dos jornalistas do semanário Sol atingiu um novo patamar. E desta vez parece difícil de ultrapassar, senão vejamos.
Segundo o nosso bem conhecido Manuel A. Magalhães (MAM) o Partido Comunista Português “encostou à direita”, e o responsável por esta proeza é o Bloco de Esquerda.
Para o referido semanário, que cita fontes do BE, esta viragem à direita é provada pelo facto de Jerónimo de Sousa ter mostrado preocupação com o recente recrudescimento do crime violento e consequente sentimento de insegurança entre a população portuguesa. De facto, é de conhecimento de toda a gente que a atitude verdadeiramente de esquerda será a do BE que, segundo o jornalista, foi o único partido a ignorar este tema durante o Verão (para fazer mais um jeitinho ao governo?). Para João Semedo aliás “o PCP colou-se escandalosamente à extrema-direita”.
O texto, que prova o facto de não haver limites para a idiotice entre os jornalistas do Sol, é um verdadeiro tratado ao preconceito, divulgando por exemplo que o eleitorado do PCP são os “trabalhadores reformados dos meios urbanos e subúrbios, que sentem de perto a insegurança.” Será justo, seguindo a mesma ordem de ideias, a menos que o Sol se tenha baseado num estudo científico para fazer esta afirmação, supor que o eleitorado do BE serão os indivíduos que cometem os referidos crimes, o verdadeiro eleitorado de esquerda. Mas da de confiança.
Seria lógico que o PCP, sendo como é, o partido da classe operária e de todos os trabalhadores portugueses, defendesse que nada se fizesse para impedir o crime violento. Todos sabemos que os verdadeiros prejudicados dos assaltos a gasolineiras, bancos, carrinhas de transportes, supermercados, etc., são os capitalistas detentores das referidas empresas que, obviamente, ou se encontram no conforto de sua casa ou tão bem guardados por seguranças que nem se preocupam com estes problemas. Os trabalhadores e empregados dessas empresas, que se encontram nos locais dos eventuais crimes, esses, no fundo até desfrutam dos assaltos. Deve saber com certeza muito bem ser assaltado ao fim de um dia de trabalho, ser vítima de coacção física e psicológica, arriscado a levar um tiro ou a ficar sem alguns pertences que eventualmente tenham consigo. Os trabalhadores sempre foram beneficiados pelo crime, e suspeito mesmo que são eles que os cometem.
Não me vou referir à economia socialista e ao desemprego virtualmente inexistente nem ás taxas de criminalidade de alguns países que implementaram (ou pretenderam implementar) esse tipo de economias. Não podia contudo deixar passar mais este ataque asqueroso e desprezível por parte de um jornal português contra o PCP.
Só lamento pelo jornalista. A vida de gente como este MAM deve ser tão triste, tendo em conta que vivem com o objectivo de atacar, denegrir e menosprezar o PCP, e ter de assistir a iniciativas como a última Festa do Avante! ou saber que este partido tem milhares de militantes dispostos a dar tudo, por aquilo que acreditam ser o melhor para o país e para o povo português.

11 setembro 2008

As cinco dificuldades para escrever a verdade

Após termos assistido, mais um ano, à forma como a comunicação social portuguesa tratou a informação relativa à Festa do Avante!, parece-me oportuno reler o texto de Brecht, As cinco dificuldades para escrever a verdade:


Hoje, o escritor que deseje combater a mentira e a ignorância tem de lutar, pelo menos, contra cinco dificuldades. É-lhe necessária a coragem de dizer a verdade, numa altura em que por toda a parte se empenham em sufocá-la; a inteligência de a reconhecer, quando por toda a parte a ocultam; a arte de a tornar manejável como uma arma; o discernimento suficiente para escolher aqueles em cujas mãos ela se tornará eficaz; finalmente, precisa de ter habilidade para difundir entre eles. Estas dificuldades são grandes para os que escrevem sob o jugo do fascismo; aqueles que fugiram ou foram expulsos também sentem o peso delas; e até os que escrevem num regime de liberdades burguesas não estão livres da sua acção.

1- A coragem de dizer a verdade. É evidente que o escritor deve dizer a verdade, não a calar nem a abafar, e nada escrever contra ela. É sua obrigação evitar rebaixar-se diante dos poderosos, não enganar os fracos, naturalmente, assim como resistir à tentação do lucro que advém de enganar os fracos. Desagradar aos que tudo possuem equivale a renunciar seja o que for. Renunciar ao salário do seu trabalho equivale por vezes a não poder trabalhar, e recusar ser célebre entre os poderosos é muitas vezes recusar qualquer espécie de celebridade. Para isso precisa-se de coragem. As épocas de extrema opressão costumam ser também aquelas em que os grandes e nobres temas estão na ordem do dia. Em tais épocas, quando o espírito de sacrifício é exaltado ruidosamente, precisa o escritor de muita coragem para tratar de temas tão mesquinhos e tão baixos como a alimentação dos trabalhadores e o seu alojamento.Quando os camponeses são cobertos de honrarias e apontados como exemplo, é corajoso o escritor que fala da maquinaria agrícola e dos pastos baratos que aliviariam o tão exaltado trabalho dos campos. Quando todos os altifalantes espalham aos quatro ventos que o ignorante vale mais do que o instruído, é preciso coragem para perguntar: vale mais por quê? Quando se fala de raças nobres e de raças inferiores, é corajoso o que pergunta se a fome, a ignorância e a guerra não produzem odiosas deformidades. É igualmente necessária coragem para se dizer a verdade a nosso próprio respeito, sobre os vencidos que somos. Muitos perseguidos perdem a faculdade de reconhecer as suas culpas. A perseguição parece-lhes uma monstruosa injustiça. Os perseguidores são maus, dado que perseguem, e eles, os perseguidos, são perseguidos por causa da sua virtude. Mas essa virtude foi esmagada, vencida, reduzida à impotência. Bem fraca virtude ela era! Má, inconsistente e pouco segura virtude, pois não é admissível aceitar a fraqueza da virtude como se aceita a humidade da chuva. É necessária coragem para dizer que os bons não foram vencidos por causa da sua virtude, mas antes por causa da sua fraqueza. A verdade deve ser mostrada na sua luta com a mentira e nunca apresentada como algo de sublime, de ambíguo e de geral; este estilo de falar dela convém justamente à mentira. Quando se afirma que alguém disse a verdade é porque houve outros, vários, muitos ou um só, que disseram outra coisa, mentiras ou generalidades, mas aquele disse a verdade, falou em algo de prático, concreto, impossível de negar, disse a única coisa que era preciso dizer.Não se carece de muita coragem para deplorar em termos gerais a corrupção do mundo e para falar num tom ameaçador, nos lugares onde a coisa ainda é permitida, da desforra do Espírito. Muitos simulam a bravura como se os canhões estivessem apontados sobre eles; a verdade é que apenas servem de mira a binóculos de teatro. Os seus gritos atiram algumas vagas e generalizadas reivindicações, à face dum mundo onde as pessoas inofensivas são estimadas. Reclamam em termos gerais uma justiça para a qual nada contribuem, apelam pela liberdade de receber a sua parte dum espólio que sempre têm partilhado com eles. Para esses, a verdade tem de soar bem. Se nela só há aridez, números e factos, se para a encontrar forem precisos estudos e muito esforço, então essa verdade não é para eles, não possui a seus olhos nada de exaltante. Da verdade, só lhes interessa o comportamento exterior que permite clamar por ela. A sua grande desgraça é não possuírem a mínima noção dela.

2- A inteligência de reconhecer a verdade. Como é difícil dizer a verdade, já que por toda a parte a sufocam, dizê-la ou não parece à maioria uma simples questão de honestidade. Muitas pessoas pensam que quem diz a verdade só precisa de coragem. Esquecem a segunda dificuldade, a que consiste em descobri-la. Não se pode dizer que seja fácil encontrar a verdade.Em primeiro lugar, já não é fácil descobrir qual verdade merece ser dita. Hoje, por exemplo, as grandes nações civilizadas vão soçobrando uma após outra na pior das barbáries diante dos olhos pasmados do universo. Acresce ainda o facto de todos sabermos que a guerra interna, dispondo dos meios mais horríveis, pode transformar-se dum momento para o outro numa guerra exterior que só deixará um montão de escombros no sitio onde outrora havia o nosso continente. Esta é uma verdade que não admite dúvidas, mas é claro que existem outras verdades. Por exemplo: não é falso que as cadeiras sirvam para a gente se sentar e que a chuva caia de cima para baixo. Muitos poetas escrevem verdades deste gênero. Assemelham-se a pintores que esboçassem naturezas mortas a bordo dum navio em risco de naufragar. A primeira dificuldade de que falamos não existe para eles e, contudo, têm a consciência tranquila. "Esgalham" o quadro num desprezo soberano pelos poderosos, mas também sem se deixarem impressionar pelos gritos das vítimas. O absurdo do seu comportamento engendra neles um "profundo" pessimismo que se vende bem; os outros é que têm motivos para se sentirem pessimistas ao verem o modo como esses mestres se vendem. Já nem sequer é fácil reconhecer que as suas verdades dizem respeito ao destino das cadeiras e ao sentido da chuva: essas verdades soam normalmente de outra maneira, como se estivessem relacionadas com coisas essenciais, pois o trabalho do artista consiste justamente em dar um ar de importância aos temas de que trata.Só olhando os quadros de muito perto é que podemos discernir a simplicidade do que dizem: "Uma cadeira é uma cadeira" e "Ninguém pode impedir a chuva de cair de cima para baixo". As pessoas não encontram ali a verdade que merece a pena ser dita.Alguns se consagram verdadeiramente às tarefas mais urgentes, sem medo aos poderosos ou à pobreza, e, no entanto, não conseguem encontrar a verdade. Faltam-lhe conhecimentos. As velhas superstições não os largam, assim como os preconceitos ilustres que o passado frequentemente revestiu de uma forma bela. Acham o mundo complicado em demasia, não conhecem os dados nem distinguem as relações. A honestidade não basta; são precisos conhecimentos que se podem adquirir e métodos que se podem aprender. Todos os que escrevem sobre as complicações desta época e sobre as transformações que nela ocorrem necessitam de conhecer a dialética materialista, a economia e a história. Estes conhecimentos podem adquirir-se nos livros e através da aprendizagem prática, por mínima que seja a vontade necessária. Muitas verdades podem ser encontradas com a ajuda de meios bastante mais simples, através de fragmentos de verdades ou dos dados que conduzem à sua descoberta. Quando se quer procurar, é conveniente ter-se um método, mas também se pode encontrar sem método e até sem procura. Contudo, através dos diversos modos como o acaso se exprime, não se pode esperar a representação da verdade que permite aos homens saber como devem agir. As pessoas que só se empenham em anotar os fatos insignificantes são incapazes de tornar manejáveis as coisas deste mundo. O objetivo da verdade é uno e indivisível. As pessoas que apenas são capazes de dizer generalidades sobre a verdade não estão à altura dessa obrigação.Se alguém está pronto a dizer a verdade e é capaz de a reconhecer, ainda tem de vencer três dificuldades.

3-A arte de tornar a verdade manejável como uma arma. O que torna imperiosa a necessidade de dizer a verdade são as consequências que isso implica no que diz respeito à conduta prática. Como exemplo de verdade inconsequente ou de que se poderão tirar consequências falsas, tomemos o conceito largamente difundido, segundo o qual em certos países reina um estado de coisas nefasto, resultante da barbárie. Para esta concepção, o fascismo é uma vaga de barbárie que alagou certos países com a violência de um fenómeno natural. Os que assim pensam, entendem o fascismo como um novo movimento, uma terceira força justaposta ao capitalismo e ao socialismo (e que os domina). Para quem partilha esta opinião, não só o movimento socialista, mas também o capitalismo teriam podido, se não fosse o fascismo, continuar a existir, etc. Naturalmente que se trata de uma afirmação fascista, de uma capitulação perante o fascismo. O fascismo é uma fase histórica na qual o capitalismo entrou; por consequência, algo de novo e ao mesmo tempo de velho. Nos países fascistas, a existência do capitalismo assume a forma do fascismo, e não é possível combater o fascismo senão enquanto capitalismo, senão enquanto forma mais nua, mais cínica, mais opressora e mais mentirosa do capitalismo. Como se poderá dizer a verdade sobre o fascismo que se recusa, se quem diz essa verdade se abstém de falar contra o capitalismo que engendra o fascismo? Qual será o alcance prático dessa verdade? Aqueles que estão contra o fascismo sem estar contra o capitalismo, que choramingam sobre a barbárie causada pela barbárie, assemelham-se a pessoas que querem receber a sua fatia de assado de vitela, mas não querem que se mate a vitela. Querem comer vitela, mas não querem ver sangue. Para ficarem contentes, basta que o magarefe lave as mãos antes de servir a carne. Não são contra as relações de propriedade que produzem a barbárie, mas são contra a barbárie. As recriminações contra as medidas bárbaras podem ter uma eficácia episódica, enquanto os auditores acreditarem que semelhantes medidas não são possíveis na sociedade onde vivem. Certos países gozam do raro privilégio de manter relações de propriedade capitalistas por processos aparentemente menos violentos. A democracia ainda lhes presta os serviços que noutras partes do mundo só podem ser prestados mediante o recurso à violência, quer dizer, aí a democracia chega para garantir a propriedade privada dos meios de produção. O monopólio das fábricas, das minas, dos latifúndios gera em toda a parte condições bárbaras; digamos que em alguns lugares a democracia torna essas condições menos visíveis. A barbárie torna-se visível logo que o monopólio já só pode encontrar protecção na violência nua. Certas nações que conseguem preservar os monopólios bárbaros sem renunciar às garantias formais do direito, nem a comodidades como a arte, a filosofia, a literatura, acolhem carinhosamente os hóspedes cujos discursos procuram desculpar o seu país natal de ter renunciado a semelhantes confortos: tudo isso lhes será útil nas guerras vindouras. É licito dizer-se que reconheceram a verdade, aqueles que reclamam a torto e a direito uma luta sem quartel contra a Alemanha, apresentada como verdadeira pátria do mal da nossa época, sucursal do inferno, caverna do Anticristo? Desses, não será exagerado pensar que não passam de impotentes e nefastos imbecis, já que a conclusão do seu blá-blá-blá aponta para a destruição desse país inteiro e de todos os seus habitantes (o gás asfixiante, quando mata, não escolhe os culpados).O homem frívolo, que não conhece a verdade, exprime-se através de generalidades, em termos nobres e imprecisos. Encanta-o perorar sobre "os" alemães ou lançar-se em grandes tiradas sobre "o" Mal, mas a verdade é que nós, aqueles a quem o homem frívolo fala, ficamos embaraçados, sem saber que fazer de semelhantes ditames. Afinal de contas, o nosso homem decidiu deixar de ser alemão? E lá por ele ser bom, o inferno vai desaparecer? São desta espécie as grandes frases sobre a barbárie. Para os seus autores, a barbárie vem da barbárie e desaparece graças à educação moral que vem da educação. Que miséria a destas generalidades, que não visam qualquer aplicação prática e, no fundo, não se dirigem a ninguém. Não nos admiremos que se digam de esquerda, "mas" democratas, os que só conseguem elevar-se a tão fracas e improfícuas verdades. A "esquerda democrática" é outra destas generalidades-álibis onde correm a acoitarem-se as pessoas inconsequentes, isto é, os incapazes de viver até as últimas consequências as verdades que quer a esquerda, quer a democracia contêm. Reclamar-se alguém da "esquerda democrática" significa, em termos práticos, que pertence ao grupo dos ineptos para revolucionar ou conservar as coisas, ao clã dos generalistas da verdade.Não é a mim, fugido da Alemanha com a roupa que tinha no corpo, que me vão apresentar o fascismo como uma espécie de força motriz natural impossível de dominar. A obscuridade dessas descrições esconde as verdadeiras forças que produzem as catástrofes. Um pouco de luz, e logo se vê que são homens a causa das catástrofes. Pois é, amigos: vivemos num tempo em que o homem é o destino do homem.O fascismo não é uma calamidade natural, que se possa compreender a partir da "natureza" humana. Mas mesmo confrontados com catástrofes naturais, há um modo de descrevê-las digno do homem, um modo que apela para as suas qualidades combativas.O cronista de grandes catástrofes como o fascismo e a guerra (que não são catástrofes naturais) deve elaborar uma verdade praticável, mostrar as calamidades que os que possuem os meios de produção infligem às massas imensas dos que trabalham e não os possuem.Se se pretende dizer eficazmente a verdade sobre um mau estado de coisas, é preciso dizê-la de maneira que permita reconhecer as suas causas evitáveis. Uma vez reconhecidas as causas evitáveis, o mau estado de coisas pode ser combatido.

4- Discernimento suficiente para escolher os que tornarão a verdade eficaz. Tirando ao escritor a preocupação pelo destino dos seus textos, as tradições seculares do comércio da coisa escrita no mercado das opiniões deram-lhe a impressão de que a sua missão terminava logo que o intermediário, cliente ou editor, se encarregava de transmitir aos outros a obra acabada. O escritor pensava: falo e ouve-me quem me quiser ouvir. Na verdade, ele falava e quem podia pagar ouvia-o. Nem todos ouviam as suas palavras, e os que as ouviam não estavam dispostos a ouvir tudo o que se lhes dizia. Tem-se falado muito desta questão, mas mesmo assim ainda não chega o que se tem dito: limitar-me-ei aqui a acentuar que "escrever a alguém" tornou-se pura e simplesmente "escrever". Ora não se pode escrever a verdade e basta: é absolutamente necessário escrevê-la a "alguém" que possa tirar partido dela. O conhecimento da verdade é um processo comum aos que lêem e aos que escrevem. Para dizer boas coisas, é preciso ouvir bem e ouvir boas coisas. A verdade deve ser pesada por quem a diz e por quem a ouve. E para nós que escrevemos, é essencial saber a quem a dizemos e quem no-la diz. Devemos dizer a verdade sobre um mau estado de coisas àqueles que o consideram o pior estado de coisas, e é desses que devemos aprender a verdade. Devemos não só dirigir-nos às pessoas que têm uma certa opinião, mas também aos que ainda a não têm e deviam tê-la, ditada pela sua própria situação. Os nossos auditores transformam-se continuamente! Até se pode falar com os próprios carrascos quando o premio dos enforcamentos deixa de ser pago pontualmente ou o perigo de estar com os assassinos se torna muito grande. Os camponeses da Baviera não costumam querer nada com revoluções, mas quando as guerras duram demais e os seus filhos, no regresso, não arranjam trabalho nas quintas, tem sido possível ganhá-los para a revolução. Para quem escreve, é importante saber encontrar o tom da verdade. Um acento suave, lamentoso, de quem é incapaz de fazer mal a uma mosca, não serve. Quem, estando na miséria, ouve tais lamúrias, sente-se ainda mais miserável. Em nada o anima a cantilena dos que, não sendo seus inimigos, não são certamente seus companheiros de luta. A verdade é guerreira, não combate só a mentira, mas certos homens bem determinados que a propagam.

5- Habilidade para difundir a verdade. Muitos, orgulhosos de ter a coragem de dizer a verdade, contentes por a terem encontrado, porventura fatigados com o esforço necessário para lhe dar uma forma manejável, aguardam impacientemente que aqueles cujos interesses defendem a tomem em suas mãos e consideram desnecessário o uso de manhas e estratagemas para a difundir. Frequentemente, é assim que perdem todo o fruto do seu trabalho. Em todos os tempos, foi necessário recorrer a "truques" para espalhar a verdade, quando os poderosos se empenhavam em abafá-la e ocultá-la. Confúcio falsificou um velho calendário histórico nacional, apenas lhe alterando algumas palavras. Quando o texto dizia: "o senhor de Kun condenou à morte o filósofo Wan por ter dito frito e cozido", Confúcio substituía "condenou à morte" por "assassinou". Quando o texto dizia que o Imperador Fulano tinha sucumbido a um atentado, escrevia "foi executado". Com este processo, Confúcio abriu caminho a uma nova concepção da história. Na nossa época, aquele que em vez de "povo", diz "população", e em lugar de terra", fala de "latifúndio", evita já muitas mentiras, limpando as palavras da sua magia de pacotilha. A palavra "povo" exprime uma certa unidade e sugere interesses comuns; a "população" de um território tem interesses diferentes e opostos. Da mesma forma, aquele que fala em "terra" e evoca a visão pastoral e o perfume dos campos favorece as mentiras dos poderosos, porque não fala do preço do trabalho e das sementes, nem no lucro que vai parar aos bolsos dos ricaços das cidades e não aos dos camponeses que se matam a tornar fértil o "paraíso". "Latifúndio" é a expressão justa: torna a aldrabice menos fácil. Nos lugares onde reina a opressão, deve-se escolher, em vez de "disciplina", a palavra "obediência", já que mesmo sem amos e chefes a disciplina é possível, e caracteriza-se portanto por algo de mais nobre que a obediência. Do mesmo modo, "dignidade humana" vale mais do que "honra": com a primeira expressão o indivíduo não desaparece tão facilmente do campo visual; por outro lado, conhece-se de ginjeira o gênero de canalha que costuma apresentar-se para defender a honra de um povo, e com que prodigalidade os gordos desonrados distribuem "honrarias" pelos famélicos que os engordam. Ao substituir avaliações inexactas de acontecimentos nacionais por notações exactas, o método de Confúcio ainda hoje é aplicável. Lenine, por exemplo, ameaçado pela polícia do czar, quis descrever a exploração e a opressão da ilha Sakalina pela burguesia russa. Substituiu "Rússia" por "Japão" e "Sakalina" por "Coréia". Os métodos da burguesia japonesa faziam lembrar a todos os leitores os métodos da burguesia russa em Sakalina, mas a brochura não foi proibida, porque o Japão era inimigo da Rússia. Muitas coisas que não podem ser ditas na Alemanha a propósito da Alemanha, podem sê-lo a propósito da Áustria. Há muitas maneiras de enganar um Estado vigilante.Voltaire combateu a fé da Igreja nos milagres, escrevendo um poema libertino sobre a Donzela de Orleans, no qual são descritos os milagres que sem dúvida foram necessários para Joana d'Arc permanecer virgem no exército, na Corte e no meio dos frades. Pela elegância do seu estilo e a descrição de aventuras galantes inspiradas na vida relaxada das classes dirigentes, levou estas a sacrificar uma religião que lhes fornecia os meios de levar essa vida dissoluta. Mais e melhor deu assim às suas obras a possibilidade de atingir por vias ilegais aqueles a quem eram destinadas. Os poderosos que Voltaire contava entre os seus leitores favoreciam ou toleravam a difusão dos livros proibidos, e desse modo sacrificavam a polícia que protegia os seus prazeres. E o grande Lucrécio sublinha expressamente que, para propagar o ateísmo epicurista confiava muito na beleza dos seus versos. Não há dúvida de que um alto nível literário pode servir de salvo-conduto à expressão de uma ideia. Contudo, muitas vezes desperta suspeitas. Então, pode ser indicado baixá-lo intencionalmente. É o que acontece, por exemplo, quando sob a forma desprezada do romance policial, se introduz à socapa, em lugares discretos, a descrição dos males da sociedade. O grande Shakespeare baixou o seu nível por considerações bem mais fracas, quando tratou com uma voluntária ausência de vigor o discurso com que a mãe de Coriolano tentou travar o filho, que marchava sobre Roma: Shakespeare pretendia que Coriolano desistisse do seu projecto, não por causa de razões sólidas ou de uma emoção profunda, mas por uma certa fraqueza de carácter que o entregava aos seus velhos hábitos. Encontramos igualmente em Shakespeare um modelo de manhas na difusão da verdade: o discurso de Marco Antonio perante o corpo de César, quando repete com insistência que Brutus, assassino de César, é um homem honrado, descrevendo ao mesmo tempo o seu acto, e a descrição do acto provoca mais impressão que a do autor. Jonathan Swift propôs numa das suas obras o seguinte meio de garantir o bem-estar da Irlanda: meter em salmoura os filhos dos pobres e vendê-los como carniça no talho. Através de minuciosos cálculos, provava que se podem fazer grandes economias quando não se recua diante de nada. Swift armava voluntariamente em imbecil, defendendo uma maneira de pensar abominável e cuja ignomínia saltava aos olhos de todos. O leitor podia-se mostrar mais inteligente, ou pelo menos mais humano que Swift, sobretudo aquele que ainda não tinha pensado nas consequências decorrentes de certas concepções. São consideradas baixas as actividades úteis aos que são mantidos no fundo da escala: a preocupação constante pela satisfação de necessidades; o desdém pelas honrarias com que procuram engodar os que defendem o país onde morrem de fome; a falta de confiança no chefe quando o chefe nos leva a todos à catástrofe; a falta de gosto pelo trabalho quando ele não alimenta o trabalhador; o protesto contra a obrigação de ter um comportamento de idiotas; a indiferença para com a família, quando de nada serve a gente interessar-se por ela. Os esfomeados são acusados de gulodice; os que não têm nada a defender, de covardia; os que duvidam dos seus opressores, de duvidar da sua própria força; os que querem receber a justa paga pelo seu trabalho, de preguiça, etc. Numa época como a nossa, os governos que conduzem as massas humanas à miséria, têm de evitar que nessa miséria se pense no governo, e por isso estão sempre a falar em fatalidade. Quem procura as causas do mal, vai parar à prisão antes que a sua busca atinja o governo. Mas é sempre possível opormo-nos à conversa fiada sobre a fatalidade: pode-se mostrar, em todas as circunstâncias, que a fatalidade do homem é obra de outros homens. Até na descrição de uma paisagem se pode chegar a um resultado conforme à verdade, quando se incorporam à natureza as coisas criadas pelo homem.

Recapitulação

A grande verdade da nossa época (só seu conhecimento em nada nos faz avançar, mas sem ela não se pode alcançar nenhuma outra verdade importante) é que o nosso continente se afunda na barbárie porque nele se mantêm pela violência determinadas relações de propriedade dos meios de produção. De que serve escrever frases corajosas mostrando que é bárbaro o estado de coisas em que nos afundamos (o que é verdade), se a razão de termos caído nesse estado não se descortina com clareza? É nossa obrigação dizer que, se se tortura, é para manter as relações de propriedade. Claro que ao dizermos isso perdemos muitos amigos; aqueles que são contra a tortura porque julgam ser possível manter sem ela as relações de propriedade (o que é falso). Devemos dizer a verdade sobre as condições bárbaras que reinam no nosso país a fim de tornar possível a acção que as fará desaparecer, isto é, que transformará as relações de propriedade. Devemos dizê-la aos que mais sofrem com as relações de propriedade e estão mais interessados na sua transformação, ou seja: aos operários e aos que podemos levar a aliarem-se com eles, por não serem proprietários dos meios de produção, embora associados aos lucros e benefícios da exploração de quem produz. E, é claro, devemos proceder com astúcia.Devemos resolver em conjunto, e ao mesmo tempo, estas cinco dificuldades, já que não podemos procurar a verdade sobre condições bárbaras sem pensar nos que sofrem essas condições e estão dispostos a utilizar esse conhecimento. Além disso, temos de pensar em apresentar-lhes a verdade sob uma forma susceptível de se transformar numa arma nas suas mãos, e simultaneamente com a astúcia suficiente para que a operação não seja descoberta e impedida pelo inimigo.São estas as virtudes exigidas ao escritor empenhado em dizer a verdade.